domingo, 1 de novembro de 2009

É quando nascemos que começamos a morrer.

É quando nascemos que começamos a morrer, disse-me um dia o meu pai, teu orgulhoso avô que hoje faz sessenta e um anos. Achei que seria engraçado pedir ao doutor que nascesses no mesmo dia que ele nasceu. Faz hoje um ano desde o primeiro dia desta tua longa viagem. Há um ano desejei-te uma viagem cheia de coisas boas, de grandes aprendizagens, de erros, de momentos inesquecíveis, eternos, memoráveis. Diz o teu avô que os momentos são o ouro da vida, devemos juntar a maior quantidade de momentos para usufruir de uma passagem realmente enriquecedora pela vida. De nada valerá a pena viveres se no dia em que estiveres destinado a morrer, não tiveres bons momentos para recordar, se não tiveres algo de que te orgulhes realmente, se não houver uma verdadeira loucura a lembrar, uma árdua lição a ensinar e o fogo de uma paixão vivida a invadir-te os pensamentos na hora da despedida. De nada valerá a pena teres nascido se não aproveitares o tempo que tens para viver. Nasceste livre e é livre que quero que permaneças, peço-te como mãe que não te acorrentes ao longo da tua vida, que não deixes que o orgulho e as aparências sejam nunca valores mais altos que a liberdade dos teus verdadeiros quereres e poderes. Sim, meu querido, deixa-me contar-te um segredo que os outros humanos não sabem e que as outras mães não vão contar aos seus filhos. Nós, seres humanos, temos poderes incríveis que não ousamos usar com medo não sei bem do quê. Temos a capacidade de amar e preferimos suportar, temos a capacidade de libertar e escolhemos limitar, temos o dom de não depender de coisa nenhuma material e procuramos depender de tudo e mais alguma coisa. Xiu, não faças barulho, eles não sabem e ficariam surpreendidos se o descobrissem, se o adivinhassem nos teus burburinhos. Talvez dissessem que estás louco, que nasceste com algum tipo de paralisia que não te deixa ver o limite das coisas. Contudo, deixa-me que te diga meu amor, a liberdade é mesmo isso, não tem limites, quanto muito pode ter fronteiras. A fronteira da tua liberdade será quando começa a liberdade do teu próximo, mas desde que não pises a liberdade desse teu próximo, desde que não invadas o seu metro quadrado de privacidade, desde que não o prejudiques pelo uso da tua escolha livre, então terás a liberdade de tomares as opções que tu bem entenderes. Não deixes que façam de ti mais um mascarado desta sociedade cruel e hipócrita. Não deixes de acreditar porque alguém te disse que aquilo em que acreditas é mentira. Não te tornes invisível no meio dos outros. Não deixes, contudo, de ser transparente no meio de opacos, nada receies assumir se essa for mesmo a tua escolha, não temas nenhum julgamento se a tua consciência estiver a agir em conformidade com os teus valores, que nada atormente os teus caminhos se a tua coragem te mandar avançar. Sobretudo, não deixes de viver porque te disseram que um dia todos vão morrer. Não deixes de voar porque os outros dizem que não tens asas.

É quando nascemos que começamos a morrer. É antes de morrer que temos oportunidade de viver...

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